Estudo estima população exposta a risco de tsunami em Lisboa

Trabalho inédito de Sérgio Freire pode ter grande utilidade para a Protecção Civil

 

 

A susceptibilidade de inundação por tsunami adjacente à faixa costeira e às zonas ribeirinhas na Área Metropolitana de Lisboa (AML) é já conhecida e confirmada com várias ocorrências deste fenómeno natural no passado, nomeadamente em 1755, 1756 e1941. No entanto, nunca tinha sido feito um mapeamento e avaliação adequados dos riscos naturais que considerassem a população potencialmente exposta a essa eventualidade.

Sérgio Freire, investigador do Centro de Estudos de Geografia e Planeamento Regional (e-GEO), da Universidade Nova de Lisboa, é o autor de um estudo inédito em que se estima a população da AML que pode ser afectada com este fenómeno natural nos períodos nocturno e diurno. Trata-se de um trabalho com grande utilidade no domínio da Protecção Civil, que poderá utilizar a seu favor esta informação "até agora inexistente em Portugal”.

Em declarações ao “Ciência Hoje”, o investigador alertou que, hoje em dia, um fenómeno desta tipologia seria muito mais devastador do que o maremoto de 1755, por exemplo. “Actualmente, Lisboa tem muito mais população”, pelo que “está muito mais gente exposta a esse risco do que em 1755", época em que“não havia tantas actividades nessa área”, advertiu.

O trabalho de Sérgio Freire, em colaboração com Christoph Aubrecht, investigador do Austrian Institute of Technology (Áustria), avaliou os movimentos pendulares, que "variam significativamente” entre o dia e a noite, nos concelhos da AML, por razões de trabalho ou estudo.

A quantidade de pessoas presente no concelho de Lisboa no período diurno chega a ser 60 por cento superior à sua população residente, sendo que a distribuição espacial também varia. Contudo, estes dados não são registados pelos Census de 2001, os últimos disponíveis, pelo que não havia dados detalhados sobre esta matéria.

Sérgio Freire
Sérgio Freire

Assim sendo, para mapear a distribuição populacional no período diurno, “consideram-se os usos do solo que correspondem aos principais tipos de actividades - comércio, indústria, serviços - , bem como os movimentos pendulares inter-concelhios efectuados por razões de trabalho e de estudo, de forma a aproximar a situação que se verifica num dia útil típico”.

Os investigadores português e austríaco tiveram de combinar a cartografia já existente sobre susceptibilidade de inundação por tsunami com um novo modelo de distribuição espácio-temporal da população,numa análise realizada com recurso a um sistema de informação geográfica (SIG).

Os resultados preliminares deste trabalho, que será amanhã apresentado na “VIII International Conference on Information Systems for Crisis Response and Management” (ISCRAM 2011), em Lisboa, no Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), indicam que há um “número significativo de pessoas que reside, trabalha ou estuda em zonas susceptíveis de inundação em caso de tsunami”. Este corresponde a oito por cento da população residente na AML e a 16 por cento da distribuição populacional diurna.

O período diurno é aquele que apresenta maior risco, visto que são 400 mil as pessoas potencialmente expostas a este fenómeno natural, enquanto durante a noite esse valor reduz-se para metade. Além disso, este aumento populacional é mais significativo nas zonas de susceptibilidade elevada, o que corresponde a um factor de aumento superior a 2,5 vezes.

População da AML durante os períodos nocturno e diurno (Clique para aumentar)
População da AML durante os períodos nocturno e diurno (Clique para aumentar)

Estudo útil à Protecção Civil

A Protecção Civil é, na opinião de Sérgio Freire, uma das entidades que mais pode beneficiar deste estudo, pois “uma melhor caracterização de exposições e vulnerabilidades humanas e, consequentemente, do risco” pode ser "uma grande contribuição” para se desenharem o planeamento de emergência, a mitigação do risco e a resposta a uma ocorrência. Além disso, estes dados podem ser úteis nos domínios do planeamento e ordenamento do território, para estudos ambientais e de saúde e em matéria de defesa e segurança nacional.

O investigador do e-Geo lembrou que o número de pessoas situadas na zona de susceptibilidade“não tem relação directa com o número potencial de vítimas”, pois descobrir este valor exige o recurso a outro tipo de dados e análises, que não foram ainda realizadas. A modelação de Sérgio Freire não contemplou também a população potencialmente afectada por efeitos secundários e indirectos, tais como incêndios, impedimento de vias de comunicação ou perturbação no fornecimento de serviços essenciais como água e electricidade.

Este projecto ainda não está terminado e terá futuros desenvolvimentos, em colaboração com o German Aerospace Center (DLR). Desta forma, serão gerados cenários de evacuação da população, bem como modelação mais pormenorizada da distribuição espácio-temporal da população. Os dados dos Censos 2011, quando estiverem disponíveis, vão também permitir actualizar os resultados até agora anunciados.

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